Para
onde olhamos quando estamos diante de uma página impressa ou de uma
obra visual?
Esta
questão preocupou artistas, pintores, estudiosos das artes visuais e
jornalistas durante anos. Por muito tempo, no jornalismo se difundiu
a teoria das “zonas de visualização”, como citado por Edmund
Arnold no livro “Tipografia e diagramado para periódicos”. Mas
este era um conhecimento empírico, para não dizer um grande
“chute”. Esta crença foi desfeita a partir de pesquisas
científicas levadas a cabo nos anos 1990.
Um
dos autores que difundiram as ideias de Arnold foi Rafael
Sousa Silva
em sua dissertação de mestrado “Diagramação: o planejamento
visual gráfico na comunicação impressa”. Leia o capítulo Zonas
de visualização da página impressa para
ver o esquema proposto por Arnold, também apresentado na figura ao
lado.
Mas,
a partir dos anos 1980 e 1990, estudos mais acurados, que captavam os
“caminhos” do olhar sobre uma superfície, demonstraram que idéia
de zonas de visualização era mais uma aposta errada do que qualquer
outra coisa.
Estudos
do russo Alfred
Yarbus sobre
a maneira como observadores olham para uma obra visual (citado por
Julio Plaza em “Videografia em Videotexto”) mostram que o olhar
do ser humano segue caminhos variáveis mas fortemente determinados
pelos elementos de maior interesse na composição visual. O estudo
imprimiu em filme fotográfico o caminho seguido pelo olhar de
observadores, por meio de um dispositivo “colado” ao olho por
sucção. Um dos campos de provas foi o quadro “O retorno
inesperado”, do ucraniano Ilya Repin.
A
partir de fotos do estudo, eu montei uma imagem GIF animada (clique
na miniatura ao lado para ver a animação) onde pode-se observar que
o
ser humano parece se interessar muito por rostos.
Os riscos mostram o caminho do olhar durante quatro sessões de
observação, com alguns dias de diferença entre elas. Nota-se que o
olhar percorre a cena à
procura de pontos de interesse e
tende e se concentrar nestes pontos quando os encontra. Ou seja: quem
determina para onde se olha numa composição visual é o artista que
criou a composição.
Este
fato foi comprovado na composição
visual jornalística pelo
estudo “Eyes
on the news”
(Olho na notícia),
levado a cabo porMario
Garcia e
Pegie
Adams em
1990. Os pesquisadores usaram um artefato chamado Eyetrack,
que pode-se ver nas ilustrações a seguir.
Ele
era composto por duas câmeras de vídeo, uma dirigida a um vidro
semi-espelhado em frente aos olhos do observador, e outra apontada
diretamente para os olhos deste. As duas imagens eram tratadas e
fundidas numa só, onde aparecia a página do jornal fixa com um
“cursor” apontando aonde os olhos se fixavam.
Eyes
on the news confirmou
algumas crenças e desmentiu outras. Confirmou, por exemplo, que a
primeira
páginavista
por leitores ocidentais é a da direita.
Mas desmentiu totalmente a crença nas zonas de visualização
propostas por Arnold. Também descobriu que os anúncios em jornal,
no estudo, não foram lidos primeiro nem se houvesse ofertas ou se
fosse anúncio colorido.
Garcia
e Adams descobriram que a leitura dos jornais foi feita em duas
etapas: primeiro, os leitores faziam uma verredura na página
(scanning), procurando pontos de interesse. Essa parte durou frações
de segundos. Depois, os leitores se fixavam em “pontos
de entrada”.
Estes pontos — os locais onde os leitores faziam uma visualização
mais demorada — eram determinados, entre outros fatores, pelo
tamanho das fotos, pelo conteúdo destas, se a foto era coloria ou
não.
Veja
alguns dos resultados obtidos pela pesquisa Eyes
on the news.
Por exemplo, o índice de visualização da primeira página de um
jornal preparado especialmente para o estudo. Estes números se
referem ao “ponto de entrada” na página, ou seja, o ponto em que
os leitores começaram a “ler” fotos ou texto.
Os
“promo boxes”, chamadas de capa acima dos logotipos dos jornais,
tiveram o maior índice de “entrada”.
Outros
exemplos de pontos de entrada:
Na
última imagem, um resumo do que deve fazer um diagramador:
O
que nós exploramos nesta seção deve nos lembrar um simples
princípio do design: crie
hierarquia.
O objeto do bom design de publicaçãoé primeiro
atrair o leitor,
então guiá-lo
através da informação.
Muitos jornais abandonam leitores por deixá-los livres para vagar
através de campos e florestas do desconhecido. Não admira que
tantos leitores fiquem perplexos e eventualmente perdidos. Criando
uma hierarquia
de movimento através
de uma página ou de páginas espelhadas, nós podemos orientá-los e
aconselhá-los gentilmente mas efetivamente, estabelecendo
uma harmonia de movimento que resulta em compreensão.
Para planejar esta viagem para os outros, nós primeiro necessitamos
ver o que o leitor vê — neste caso, duas
páginas por vez.